O Brasil parou por algumas horas entre agosto e setembro por um motivo especial: Rebeca Andrade. A medalhista de ouro em Tóquio, que roubou o coração de todos os brasileiros, ia finalmente mostrar para o mundo, novamente, sua força, garra, esforço e classe em busca de uma nova medalha para o nosso país. Em jogos olímpicos, todos acompanhamos o carisma e as performances de Rebeca, mas como sua própria companheira, Flávia Saraiva, disse em uma entrevista: “Não é que nós treinamos por 4 anos para a próxima olimpíada, todos os treinos desde que começamos no esporte são com esse objetivo.” Rebeca Andrade é o foco dessa matéria: sua vida, o caminho até a olimpíada, metas futuras, e o legado que ela deixa para as mulheres no esporte.
Nascida em Guarulhos em 1999, Rebeca começou na ginástica aos 4 anos por meio de um programa social. Mesmo com dificuldades financeiras, nunca desistiu de treinar, com o apoio de sua mãe e irmão, Roger. Ele a levava de ônibus todos os dias, mas, muitas vezes, faltava dinheiro para o passe, então iam a pé para que Rebeca pudesse treinar. Aos 9 anos, recebeu uma oferta para se mudar para Curitiba e treinar em outro projeto governamental. Um ano depois, foi convidada pelo Flamengo, maior centro de treinamento de ginástica do Brasil, para treinar e realizar o sonho de se tornar uma ginasta renomada.
Em 2012, aos 13, Rebeca estreou em competições, ganhando destaque ao vencer atletas consagradas e conquistando medalhas em torneios nacionais e internacionais: no Brasileiro e Panamericano, por exemplo. Em 2015, a atleta ganhou sua primeira medalha em uma edição de Copa do Mundo. No entanto, por um longo período depois dessa competição, se lesionou algumas vezes, e passou por várias cirurgias no joelho que afetaram sua carreira temporariamente.
Rebeca passou por cinco cirurgias no joelho direito, uma no esquerdo e uma em cada pé, em um curto período, o que a impediu de competir em campeonatos nacionais e internacionais. Ela revelou no Instagram que suas lesões foram “as coisas mais difíceis que eu precisei enfrentar”, afetando tanto o físico quanto o psicológico. “Eu conversava muito com a minha psicóloga. Minha cabeça só ficou boa por ter alguém para me ajudar”, já que muitas lesões ocorreram em momentos decisivos, antes de campeonatos importantes. Incentivadora da terapia, Rebeca cursa psicologia e pretende futuramente unir suas paixões, ajudando atletas como foi ajudada.
Após superar uma maratona de lesões, Rebeca voltou às competições em 2021 com força total, garantindo prata no individual geral e no salto nas Olimpíadas de Tóquio. Suas conquistas a tornaram a ginasta mais vitoriosa da história do Brasil, inspirando jovens ginastas e mulheres em todo o país. As Olimpíadas de Paris 2024 foram um novo encontro dos brasileiros com Rebeca, com grande expectativa. Considerada uma das melhores ginastas da história, Rebeca ajudou a equipe feminina a conquistar o inédito bronze, levando o Brasil ao pódio. Além disso, conquistou prata no individual geral, ficando novamente atrás de Simone Biles, e prata no salto. Rebeca também conquistou ouro no solo, após uma final emocionante.
Rebeca finalizou sua participação em Paris com mais uma medalha de ouro por conquistar os brasileiros novamente, e como a maior atleta olímpica da história. Em uma entrevista no desfecho dos jogos olímpicos, para a Rede Globo, ao ser perguntada sobre os jogos de Los Angeles em 2028, ela descartou sua participação no solo e desabafou sobre o seu estado físico. “No momento, eu não quero [fazer solo e individual geral na próxima olimpíada]. Talvez porque eu ainda estou muito cansada, sinto muita dor. Só o tempo vai dizer.”. Ela contou que ao terminar sua prova de solo, ela chorou, “[Chorei] porque terminei a competição inteira. Orei bastante para Deus todos os dias para que fosse uma competição boa e eu voltasse sem me lesionar. Independente de Paris ter sido uma despedida, tanto Rebeca quanto os brasileiros acabaram as olimpíadas muito alegres, por ela ter feito história e de ver alguém que passou por tanto chegar onde chegou.
A ginasta é um exemplo não só para as mulheres, mas para todos os brasileiros: um exemplo de perseverança, superação e trabalho duro. Seu legado é eterno; tanto no esporte quanto como figura feminina. Com o histórico de desigualdade, opressão e falta de acesso das mulheres, ter uma mulher como a Rebeca como a maior medalhista olímpica brasileira e um dos nomes mais importantes do esporte é uma honra. Para explorar as jornadas de mulheres no esporte, tanto mundial quanto aqui na escola, entrevistamos as capitãs de times da Graded: Daniela Giraldez 25′ (basquete), Sofia Cima 25′ (vôlei) e Clara Oliveira 26′ (futebol).
Ao contrário da Rebeca, as meninas acham que o maior desafio é encontrar o equilíbrio entre o esporte, o estudo e a vida social. Por mais difícil que isso seja, Clara pensa que “o esforço vale a pena, já que se você der o seu melhor em cada momento, a recompensa será ainda maior.” Seguindo essa linha de pensamento, Sofia acredita que “embora seja um desafio, com certeza não teria um desempenho acadêmico melhor do que o que tenho se parasse de jogar vôlei.
Outro desafio que Dani observa é a diferença de valorização entre os esportes femininos e masculinos. “Especialmente no basquete, quero mudar o nível de apoio que as meninas recebem em relação aos outros times da Graded.” No entanto, ela ressalta que “uma coisa que tentamos fazer em SALT para aumentar a torcida e o apoio ao esporte feminino na Graded é alternar os horários dos jogos e usar o Instagram para atualizar todos que não conseguem assistir.” Por outro lado, Sofia vê essa questão de forma diferente. “Quanto aos professores, acredito que a receptividade dos times masculinos e femininos é muito equilibrada. O que me incomoda e gostaria de ver mudar é a torcida dos times masculinos. Especialmente em campeonatos em que viajamos, nosso time sempre faz questão de assistir aos jogos dos meninos e torcer por eles. Infelizmente, isso não acontece com tanta frequência, e ter torcida faz toda a diferença na performance.”
Mesmo com os desafios, Clara enfatiza o impacto do esporte na sua vida, “É muito importante saber perder e aprender com os seus próprios erros. Só assim conseguimos melhorar e nos tornarmos pessoas melhores. O esporte me mostrou que nunca desistir é uma das coisas mais importantes da vida.”, definitivamente lições vindas do esporte, mas que vão além – vistas no esporte escolar com a Clara, mas no mundial com a Rebeca, por exemplo.
A trajetória de Rebeca é um exemplo de superação que inspira a todos, especialmente mulheres no esporte, mostrando que, com apoio e determinação, é possível conquistar o mundo.
Bibliografia
“Rebeca Andrade.” Brasil Escola. Acesso em 7 de outubro de 2024. https://brasilescola.uol.com.br/biografia/rebeca-andrade.htm.
“Rebeca Andrade diz que precisa cuidar do corpo e descarta solo para LA28: ‘Eu não quero’.” Globo Esporte, 28 de setembro de 2024. https://ge.globo.com/olimpiadas/noticia/2024/09/28/rebeca-andrade-diz-que-precisa-cuidar-do-corpo-e-descarta-solo-para-la28-eu-nao-quero.ghtml.
“Rebeca explica choro após prova de solo; deixa em aberto despedida: ‘Acho sim’.” ESPN, 28 de setembro de 2024. https://www.espn.com.br/olimpiadas/artigo/_/id/14000002/rebeca-explica-choro-apos-prova-solo-deixa-em-aberto-despedida-acho-sim-mas.