Pedro Dom: Jovem, Orgulhoso e Inconsequente

Pedro Dom: Jovem, Orgulhoso e Inconsequente

Afirmo com tranquilidade que Dom está no nível das grandes séries internacionais, tanto é que é a série de língua não-inglesa mais assistida da Amazon Prime Video, exibida em mais de 240 países e com mais de 60% de seu público vindo de fora do Brasil. Se pudermos comparar Dom com alguma outra série, eu diria que Dom é a versão madura de Outer Banks com mais ação, emoção e uma pitada de Narcos. Quem gostou de Outer Banks, como muitos adolescentes da Graded, com certeza irá amar Dom.

A série estreou na plataforma  no dia 4 de Junho e, por conta de sua grande repercussão, no dia 24 do mesmo mês sua segunda temporada já havia sido confirmada.  A história de Pedro Dom foi adaptada para as telas pelo cineasta Breno Silveira e interpretada pelo genial e expressivo Gabriel Leone. A aposta nacional da Amazon é uma superprodução incrível. Gravada pelas frenéticas ruas cariocas, tem uma fotografia e trilha sonora fantástica que configuram a atmosfera de cada cena. Ela inclui músicas icônicas dos anos 2000 como Minha Alma, da banda O Rappa, e Glamurosa, de MC Marcinho.

Se Narcos conta a vida de Pablo Escobar e de seu cartel, os fornecedores da cocaína, Dom conta  o outro lado da história, o lado das vítimas. Pedro Dom, também conhecido como o “Bandido Gato”, assaltava mansões de luxo no Rio de Janeiro. Loiro, de olho azul e com um jeito de galã, Dom não tinha dificuldade alguma em entrar nos prédios se passando por morador e assaltar as luxuosas casas; era muito bom com fechaduras e muito inteligente. Dom nunca foi a vítima da história, a não ser vítima de si mesmo e de seu insuperável vício em cocaína. Pedro, que precocemente, teve contato com o mundo das drogas, começou a assaltar para  sustentar seu vício e, cegado pelas ilusões do crime, montou uma quadrilha e se tornou o notório Pedro Dom.

Junto com uma trama interessante, Dom conta com atores fenomenais. Gabriel Leone, que interpreta Pedro, com apenas 27 anos, conseguiu capturar as nuances, entre sedutor e cômico, deixando o espectador se perguntando o porquê de estar do lado de um criminoso, torcendo para que ele volte ao caminho certo e abandone o crime e a cocaína. Os tiques de um dependente químico, o jeito sedutor e carioca de se conseguir o que se quer e a entrega total à personagem fizeram da atuação de Leone um dos grandes destaques da série.

Essa série, recheada de cenas de perseguições policiais, de assaltos mirabolantes, de cenas de sedução, de festas e de carros luxuosos chega a ser absurda até para ficção. Não à toa, o próximo vídeo recomendado no Youtube depois do trailer de Dom, é o trailer do novo Velozes e Furiosos.

É impossível analisar todos os aspectos verdadeiros, ou, não, da série sem dar spoilers, mas, chocantemente, a primeira cena da série é 100% real. Logo nos primeiros minutos da série, Victor, o pai de Pedro, um adrenaline junkie, sobe o Morro da Mangueira, atrás de seu filho. Armado, ele entra em um baile funk e atira para cima chamando a atenção de todos. Não bastasse a ousadia, Victor ainda brada que é policial, mas que está ali, apenas, em busca do filho, antes de colocar a arma no chão. Mesmo com diversos traficantes lhe apontando suas armas, o pai desesperado se recusa a sair dali até que Pedro vá com ele. 

Os assaltos e as fugas, as cenas mais emocionantes de toda série, entretanto, já não são tão reais assim. Apesar do modus operandi do grupo, toda a rede de porteiros, seguranças e faxineiras que o “bonde” tinha em suas mãos, o planejamento e a astúcia de Dom serem fielmente retratados,  os assaltos em si são obra da ficção. O nível de emoção e adrenalina dos assaltos e das fugas cresce na série a cada investida do grupo, até atingir seu clímax: a última cena da temporada, um cliffhanger emocionante para a segunda temporada. Com a segunda temporada já confirmada, só basta, agora, esperar e ver o desenrolar da história de Pedro, 

A narrativa da série, entretanto, começa mesmo antes mesmo de Dom ter nascido. Ela começa quando seu pai, Victor Dantas (Filipe Bragança/Flávio Tolezani), um mergulhador apaixonado pelo mar, se torna um agente da inteligência militar. Victor se vê no meio da guerra contra as drogas, trabalhando com o exército, se infiltra na favela Santa Marta e ganha a confiança de um grande chefe do tráfico, Ribeiro – um dos primeiros grandes traficantes do Rio de Janeiro nos anos 70. 

Na vida real, Victor Dantas se chamava Luiz Victor Lomba e se aliou ao exército realmente para combater as drogas. A série de seu filho, Pedro Machado Lomba Neto, é fruto de relatos de Victor e de um livro não publicado sobre ele. Ironicamente, a guerra contra o tráfico e contra a cocaína de quem Victor lutou durante anos para salvar os filhos de outros, fez do seu próprio filho refém. Victor tenta incessantemente salvar Pedro das drogas pois sabe que “Filho te faz herói com apenas três palavras: pai te amo”. 

Felizmente os problemas de Dom não chegam nem perto aos problemas de qualquer um de nossos leitores, mas assistir as consequências de suas ações e escutar as broncas de Victor mexem com qualquer um. Se a trama não segue fielmente a realidade, as lições que tomamos ao assistir Dom se aplicam a ela. Conforme a trama se desenrola, Pedro passa a perceber que suas ações não impactam só sua vida, mas também as de todos ao seu redor. Assim como Victor se tornou policial contra a vontade do seu pai, ele vê seu filho indo para o caminho oposto que traçou durante toda sua vida. Ao mesmo tempo, Pedro aprende como suas ações de rebeldia contra o pai expõem ele e a família a situações de risco. Uma série emocionante e frenética, que discute sobre o vício e como ele destrói vidas de todos aqueles ao redor, mas, sobretudo, uma série que fala sobre escolhas e consequências.

 

Veja São Paulo– Flávio Tolezani e Gabriel Leone: pai e filho em Dom