Vá ver Gravidade: Um filme sobre sobrevivência e solidariedade
“Não distribuirei entorpecentes ou cartas de suicida, não fugirei para as ilhas nem serei raptado por serafins. O tempo é a minha matéria, o tempo presente, os homens presentes, a vida presente.” –Carlos Drummond de Andrade, em “Mãos Dadas”
Mês passado, assisti ao filme Gravidade, de Alfonso Cuarón, com Sandra Bullock e George Clooney nos papéis principais. À primeira vista, o filme parece ser apenas mais um desses “blockbuster” hollywoodianos, que surgem nas salas de cinema todo verão. E o público até pode vê-lo dessa forma, sem problemas; é diversão igualmente garantida pra todos.
Mas Gravidade é muito mais do que isso. É uma fábula moderna que narra a incrível persistência do ser humano perante a adversidade. E quando digo que é uma fábula moderna, estou falando sério. O filme é uma aventura nos moldes de Náufrago, de Robert Zemeckis, em que o protagonista se encontra isolado em um ambiente inóspito, mas Gravidade se passa no espaço.
Também não é exatamente ficção científica, já que o filme beira a realidade a ponto de o espectador sentir-se angustiado a cada respiro ofegante da personagem de Sandra Bullock. A espaçonave retratada em Gravidade não é a “USS Enterprise” ou a “Millenium Falcon”, é, sim, um ônibus espacial “Explorer” – bem real. E esse realismo chocante só reforça a mensagem que Cuarón e seu irmão, Juan, que juntos escreveram o filme, querem transmitir ao público.
O longa-metragem explora, por meio dos cenários, fotografia e efeitos especiais pra lá de incríveis, a temática mais instintiva do ser humano: a luta pela sobrevivência. E isso me fez parar pra pensar: no filme, frente às piores situações possíveis, os personagens principais, Dra. Ryan e Comandante Matt, deixam de lado qualquer problema que poderia os estar afetando e focam somente no objetivo em questão. A jornada de ambos os personagens é tão emocionante e angustiante não só pela adversidade da situação em que se encontram, mas também pela enorme garra com que lutam para salvarem-se.
Isso me fez pensar. Na maioria das vezes, colocamos pouca fé na capacidade do ser humano de fazer o bem. O fato de a televisão só mostrar os incontáveis escândalos de corrupção, os crimes terríveis, os atentados contra a humanidade, faz com que acabemos por acreditar que a essência do ser humano é ruim. Que somos bichos mesmo, e que as únicas coisas que podem nos controlar são a lei e a ordem.
Gravidade me mostrou o outro lado dessa história, e me fez pensar sobre os outros incontáveis exemplos em que a solidariedade alheia moveu montanhas. No filme, ambos os protagonistas fazem de tudo para ajudar um ao outro. São persistentes. Pensam em desistir de tudo, mas sabem que, no fim das contas, a vida vale muito mais a pena do que a morte.
Ao assistir àquela história arrepiante, lembrei-me de outras histórias, tão ou mais arrepiantes, que aconteceram na vida real. Lembremo-nos da incrível demonstração de amor coletivo que foi o esforço internacional dedicado à reconstrução do Haiti após o terrível terremoto de 2010. Lembremo-nos do empenho de moradores de favelas no Rio de Janeiro para salvar seus conterrâneos das enchentes devastadoras em janeiro de 2011. E há tantos outros exemplos. É importante termos essas memórias bem vívidas, para que saibamos que, quando a coisa aperta, muitas vezes, a bondade do ser humano prevalece.
Gravidade mostra bem isso e, para alguns, pode até ter cara de filme de terror. É uma experiência genuinamente real, beirando o aflitivo. Mas é, em sua essência, uma celebração da vida e de tudo o que ela tem a oferecer. É um chamado para aqueles que estão desiludidos, que estão pensando em desistir de tudo, que já não veem mais motivos para continuar insistindo na vida a se mexerem.
Às vezes, é preciso uma situação tão extrema quanto a retratada no filme para fazer com que o indivíduo entenda que se esconder por trás de escapismos não adianta nada e que a vida vale a pena, especialmente quando temos outras pessoas com quem dividir nossas experiências, nosso conviver.
Vá ver Gravidade. Mas vá ao cinema. Levante do sofá, saia de casa e vá até o cinema absorver inteira e genuinamente esse filme e toda sua mensagem.
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