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Recentemente, voltei de uma viagem à Amazônia na qual tranquilamente navegamos o rio Negro até chegar a um de seus afluentes, o rio Jauaperi. Isso me fez refletir nos acontecimentos do ano passado. A escola que fomos ajudar situa-se perto de um pequeno Igarapé e, antes disso, existe uma parte rochosa no Jauaperi. Ou seja, se há uma falta de chuva, como houve em Janeiro de 2016, o barco não consegue passar. Por isso, tivemos de pegar 3 horas de voadeira por dia, levar nossos materiais e dormir na escola; depois, passar o dia lá e retornar ao barco, para repetir o processo durante 10 dias. A voadeira é um barco pequeno de motor e não tinha encosto ou abrigo do sol.
A única peça de tecnologia que eu tinha levado era meu celular, que estava sem memória para tirar fotos. Nele, eu também só tinha 13 músicas, muitas das quais eram dos mesmos cantores. Ainda por cima, eu não suportava uma delas. O fato que eu não podia ler na voadeira, por conta do vento e da água, significava que eu dependia daquelas 12 músicas restantes. Passei a viagem inteira escutando as mesmas músicas, no replay, no mínimo 3 horas por dia. Com tanto tempo disponível, eu me dispus a pensar em todos os tipos de assuntos, mas voltava sempre à música.
Por que eu estava escutando música agora, de todos os momentos? Por que eu tinha essas músicas específicas no meu celular, se tenho outras compradas na minha conta? Por que eu as continuava tocando se eu já estava enjoada de suas primeiras notas, sem contar com o restante delas?
Lembro-me claramente do dia em que tentei ficar sem escutá-las. Foi um horror. Era de manhã, e eu teria de passar as 3 horas seguintes em silêncio, debaixo do sol Amazônico. Todos dormiram e eu, desconfortável, fiquei acordada. No início, achei o silêncio maravilhoso. Ainda bem que eu trouxe o celular comigo aquele dia, porque, depois de uma hora e meia, o barulho choque-choque da voadeira contra as ondas do rio, combinado com seu motor berrando, começou a me deixar louca.
Após aquele evento, descobri que música é entretenimento, sim. E não porque pode nos fazer chorar na cena em que o Marley morre, ou nos sentirmos alegres ao fim de uma comédia. A música vai além dos sentimentos que ela propaga: também é composta pelos sentimentos que ela guarda. Você já escutou a introdução de alguma série de T.V. e se lembrou do que ocorreu? Ou, inicialmente, não gostava de uma música e acabou por amá-la? O que fazemos enquanto escutamos uma música nos ajuda a formar uma opinião concreta sobre ela.
O que faz a música tão versátil é que as pessoas escolhem do que gostam baseadas no que importa mais para elas: seja a emoção, a batida, a letra ou a voz. Os sentimentos ligados à música são importantes, mas o fato da música só estar ali importa tanto quanto o que ela convém.
Por que eu estava escutando aquelas músicas dia após dia, várias horas seguidas? Porque, de alguma forma, elas me ajudaram a pensar, a lutar contra a imensa agonia que vem com o tédio. Elas estavam ali e isso importava. Algumas eram lentas, outras alegres, mas todas me faziam sentir bem, porque as escutando, eu me esquecia que estava no barco e os meus pensamentos fluíam junto com o tempo, o rio e o vento. Eu me sentia mais livre.
Luana will be an Editor in Chief for The Talon this year, teaming up with Joel and Bruna to form the Topinguez trio. As a sophomore writing Entertainment...