O paradoxo do voto jovem

Credits: Senado Federal via Wikimedia Commons

Em um momento de ebulição política como a em que estamos vivendo, as eleições se tornam um assunto indispensável no nosso cotidiano. Seguindo essa febre política, participei de inúmeras conversas a respeito de tal tópico, principalmente sobre a escolha do próximo prefeito de São Paulo. Em meio àquelas, me expus a uma miríade de perspectivas, algumas contrárias e outras análogas a minha.

Quando realizado com jovens, particularmente entre aqueles de 16 a 18 anos, o diálogo gerava em torno não somente das opções, mas também do exercício do voto. Vários se orgulhavam de terem tirado o título de eleitor e abertos à possibilidade de realizar o voto facultativo. Porém, se contradiziam ao justificar seu voto:

“Vou votar naquele que meus pais votarem.”

Visto como um direito primordial, o sufrágio simboliza a oportunidade disposta ao cidadão de expor sua perspectiva e de atuar na política de seu país, ou seja, de exercer a sua cidadania. Assim, espera-se que todo eleitor, inclusive os jovens, adote um pensamento crítico e individual ao votar. Porém, quando o adolescente opta por participar das eleições e representar a perspectiva de outras pessoas, nesse caso, a dos pais, o direito de voto concedido a ele(a) não está sendo devidamente usufruído. Em outras palavras, o jovem não cumpre a responsabilidade particular disposta por o voto e participa das eleições de maneira incaracterística. Ademais, ao partir para essa linha de argumentação, o indivíduo apela para o conformismo e apresenta uma concepção contraditória e paradoxal do direito ao voto, um privilégio que preza a particularidade de cada cidadão.

Tal concepção equivocada se deve à polarização política, pois muitos adolescentes não conseguem se identificar com os extremos ideológicos apresentados por os partidos existentes. Isso leva à prevalência de uma descrença política entre a população jovem brasileira. Sendo assim, há um fortalecimento do paradoxo do voto jovem, já que a maioria dos descrentes, os quais são altamente influenciáveis devido à falta de interesse político, apela a opiniões de eleitores aparentemente mais informados e fiéis a seus ideais políticos (que não necessariamente representam o pensamento, o anseio dos adolescentes). Para os jovens, tais eleitores são normalmente os pais, as figuras responsáveis por influir em uma grande parte das suas decisões.

Com isso, nota-se o quanto os pais podem influenciar a formulação de perspectivas dos jovens no campo político. Cabe ao jovem determinar se as perspectivas de seus pais dialogam com as suas ou se elas podem servir como adição. Porém, essa forma plurivocal de lidar com o voto, juntamente com a contradição demonstrada por os jovens eleitores conformistas, não significa que perspectivas semelhantes entre familiares seja algo inaceitável. Inclusive, a democracia utiliza a homogeneidade de pensamentos como um critério para determinar o resultado de um processo eleitoral. Portanto, sugere-se que adolescentes estejam abertos a pensamentos divergentes, até mesmo a de seus pais, e os saibam considerar de maneira dialógica para não alimentar o paradoxo apontado anteriormente.

Entretanto, os jovens, na atualidade, estão sendo cada vez mais incentivados a votarem. Por exemplo, o candidato a vereador de São Paulo, Caio Miranda, por meio de um dos seus vídeos convocou os jovens a participarem do processo eleitoral para derrubar a tão repercutida “velha política”. No entanto, por tantos jovens seguirem o paradoxo do voto jovem, o encorajamento do candidato e de muitas outras figuras é atendido, portanto, de forma equivocada.

Assim, espera-se que, através da compreensão da contradição relacionada ao voto jovem, os adolescentes eliminem tal paradoxo em sua participação nas próximas eleições. O jovem que se dispõe a votar e obtém o título de eleitor deve possuir consciência da responsabilidade, da magnitude e da relevância de seu voto. Com isso, deve haver uma preservação do pensamento crítico no cenário político para que o sufrágio continue sendo um direito particular e característico a cada cidadão, incluindo-se neste os jovens eleitores.