Porque o Impeachment Não Salvará o Brasil

Credits: TVNBR via Youtube // Creative Commons

No dia 31 de Agosto deste ano, a presidente brasileira Dilma Rousseff foi protagonista do acontecimento mais falado e discutido do ano: o impeachment. Comemorado por diversos fogos de artifício, postagens nas redes sociais com o famoso “Tchau, querida”, entre outros, a felicidade da maioria do povo brasileiro era evidente – apesar de algumas exceções. As reações de grande parte do povo brasileiro afirmam a crença de que Dilma Rousseff foi, de fato, a culpada pelos problemas sociais, políticos e econômicos do país e que, agora, o Brasil está salvo, fora da crise, livre. Acontece que o impeachment da ex-presidente não nos tira da crise, mas nos coloca em outra, onde os mesmos problemas continuam juntos com a falência do presidencialismo e de outro líder com o mesmo nível de desaprovação que a petista.

Sim, apesar de sua incompetência, falta de humildade e carisma, o governo da Dilma Rousseff e do Partido dos Trabalhadores, em geral, não trouxe apenas perdas ao Brasil. De fato, o PT liderou o Brasil por mais de treze anos quando, como disse a ex-presidente “realiza[ram] com sucesso um projeto que promoveu a maior inclusão social e redução de desigualdades da história de nosso País”. De fato, a economia do Brasil poucas vezes esteve tão bem, levando milhões de brasileiros à classe média e elevando o perfil internacional do país. Além disso, a ex-presidente continua sendo um caso à parte entre os políticos brasileiros, pois ela nunca foi acusada de desviar dinheiro para se enriquecer. Como disse chorando, o advogado da ex-presidente, “Se querem condená-la, sigam em frente, porém não zombem da honra de uma mulher digna.” O brasileiro que escolhe não reconhecer isso é apenas outro doutrinado a pensar que o PT é o grande vilão dessa história toda.

 

A crise sofrida pelo país é o resultado de diversos escândalos de corrupção, má administração do governo, a pior crise econômica da história e a péssima resposta do governo à raiva e indignação dos brasileiros. Tudo isso causado não só pela ex-presidente e pelo PT, mas também por diversos outros partidos e pelo brasileiro em si. Não podemos simplesmente culpar uma pessoa por uma crise nacional, ao mesmo tempo em que não podemos afirmar que, agora, que o poder está nas mãos de outro partido, a crise desapareceu, que o Brasil está salvo.

 

O impeachment não é a salvação do Brasil. Como diz o jornal americano, The New York Times, “O impeachment da presidente não irá repor a confiança da população nos líderes do país ou diminuir a corrupção que permeia a política brasileira. Aliás, é tudo muito pelo contrário, ele transfere o poder de um partido sofrendo escândalos de corrupção, para outro igualzinho. O [partido de Michel Temer,] PMDB, se beneficiou tanto quanto o PT de financiamento de campanha ilícito e subornos enormes.” Outro jornal, o argentino, El Clarín, também cita que, “A imagem frágil do novo presidente Michel Temer frente à população e o cenário caótico, se completa com a situação econômica complicada pela qual o Brasil passa.” Mesmo sem a Dilma, o Brasil continua em crise, com um líder com quase o mesmo nível de desaprovação que a ex-presidente, que já foi culpado por violar os limites financeiros para um campanha política e, provavelmente, não poderá concorrer à presidência por oito anos, mas, ao contrário, uma presidente que sofreu um impeachment pode concorrer ao Senado.

 

Com isso, apesar do impeachment, o Brasil continua sendo um país onde líderes temerosos são arquitetos de planos malignos para conseguir algum tipo de poder, onde o gabinete não possui uma só mulher ou afro-descendente e onde todo dia mais um político é acusado de lavagem de dinheiro, corrupção, etc. Nada foi resolvido, pois a Dilma e o PT não são os únicos culpados pela crise e o brasileiro precisa educar-se, ao invés de ficar comemorando suas quedas, pois a crise ainda não acabou.

Sources: Abril, New York Times, El País, Clarín