“Deu zika!” uma reação atrasada

Credits: Gisele Oliveira, Marcos Muller, Mauro Girão, and Jonatan Sarmento via O Estado de S. Paulo

 

Poucos do público geral conheciam o nome “Zika vírus” antes do surto de casos de microcefalia em recém-nascidos em Pernambuco, em Agosto de 2015. Para muitos, mesmo quando começou a ganhar notoriedade, achavam que era simplesmente outra doença qualquer, daquelas normalmente isoladas, em distritos menos nobres do país. Porém, com o grande surto na mídia mundial nas últimas semanas, seu conhecimento e preocupação pelo público em geral aumentaram drasticamente. O que trouxe tanta publicidade? E por que não houve precauções contra o que estamos vivenciando hoje? Para esclarecer isso, temos de compreender a origem do vírus e os eventos que levaram a este ponto.

 

Sinais do vírus podem ser traçados até sua origem nas florestas de Uganda, na África, em 1947, quando foi descoberto em um macaco da região, mas não considerado perigoso, perante  outras doenças emergentes e já existentes. Epidemiologistas acreditam que, com o decorrer dos anos, tenha sido transmitido de ilha para ilha ao longo do Pacifico, onde reemergiu em 2007, nas Filipinas.  Em 2013, já havia múltiplos casos em ilhas ao Norte da Austrália e chegou até o Cabo Verde, na África. Sua chegada ao Brasil ainda é um mistério, mas cientistas brasileiros acreditam na possibilidade de que o Zika vírus tenha chegado ao país através do grande fluxo de estrangeiros na Copa do Mundo de 2014. Por outro lado, cientistas franceses argumentam que o vírus tenha vindo das ilhas da Polinésia, de onde múltiplos habitantes vieram parao Brasil durante o Va’a World Sprint, uma corrida de canoa no Rio.

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Credits: Lucca Oliveira

O vírus Zika é primariamente transmitido por fêmeas da espécie de mosquito Aedes aegypti, que tem um período de vida de aproximadamente 30 dias. O vírus, em si, quando transmitido para adultos, permanece no sistema por até 10 dias e, normalmente, desaparece depois. Nesse período, o anfitrião sofre uma sére de sintomas parecidos aos da Dengue e da Chicungunha: dores musculares, manchas na pele, dores de cabeça e dores nas juntas. Porém, a principal preocupação atual não está no vírus em si, mas, sim, nos possíveis efeitos que são gerados, principalmente quando uma grávida é infectada. O que, antes, era uma suspeita se desvendou uma realidade – a de que há uma relação entre o vírus zika e a microcefalia. Estudos conduzidos tiveram sucesso em identificar  anticorpos do vírus presentes no cérebro de crianças abortadas ou mortas após o parto. A microcefalia é uma doença que causa danos irreversíveis no tecido cerebral da criança, com uma testa desfigurada e um crânio menor que 32 centímetros. Ainda não existe cura, nem tratamento para essa doença: o que pesa na consciência de médicos e das mães das vitimas atingidas.

 

Agora, o Brasil sofre com mais de 5.000 casos de má-formação do crânio infantil, sendo que 462 deles já confirmados como diretamente relacionados pela infecção de Zika. Mas, a microcefalia não é o único problema das vítimas: nova evidência mostra que 13 das crianças nascidas com microcefalia também tiveram problemas oculares, resultado dos danos causados ao cérebro. Além disso, o vírus também está sendo estudado por uma relação com a Síndrome de Guillain-Barre, uma forma rara de paralisia muscular em adultos, como mecanismo de defesa contra infecções. Caso exista relação entre os casos de microcefalia e os estudos de Guillain-Barre, há uma grande possibilidade de que outros efeitos, mais severos, sejam descobertos.

 O mosquito teve amplo tempo para se proliferar no ambiente brasileiro: estamos simplesmente colhendo os frutos dessa negligência. Por anos, o vírus esteve sob o radar, movendo de um pais ao próximo, arrastando-se através de vários quilômetros até atingir o Ocidente.  O Aedes aegypti, transmissor do vírus Zika, da Dengue e do Chicungunha, infectou 2 milhões de pessoas e matou 1.300 com dengue entre 2013 e 2014. Nesse tempo, o mosquito criou resistências genéticas e adaptou-se às condições climáticas do Brasil, inclusive a se reproduzir em água suja, presentes nos esgotos das regiões menos nobres e daquelas sem saneamento básico. Em Maio de 2015, o aumento de casos de microcefalia e a sua associação com o vírus Zika, algo então desconhecido até pela comunidade cientifica, fez soar um alarme internacional levando a OMS (Organização Mundial de Saúde) a considerá-lo uma preocupação mundial. Os países com mais recursos e desenvolvimento científico trabalham na compressão dos casos e no desenvolvimento de uma vacina.

 

(Fontes: nyt.com, who.int, theguardian.com, estadao.com.br)