Cunha, a Síntese do Eleitorado?
O Brasil, e o brasileiro, vivem um processo nítido de desconstrução de identidade. Dentro desse cenário apocalíptico, qual é a verdadeira função da sociedade para discutir propostas políticas e sociais? Enquanto as vozes histéricas apontam o dedo para esquerda e para a direita, por que não conseguimos dialogar? Discutir política em qualquer país nunca foi simples, sobretudo se for no Brasil, país cuja sociedade sempre refletiu certa hipocrisia, esquizofrenia e transtornos bipolares. As eleições foram um marco histórico tanto para os colégios eleitorais quanto para o brasileiro em si: testemunhamos talvez a maior polarização de nossa história. Com os políticos perdendo ambos os rumos, moral e econômico, qual é a função da sociedade, e como podemos abafar a histeria, para colocar em prática as mudanças de que o Brasil realmente necessita? Com o montante de problemas que este país acumula, qual é o real peso do papel dos políticos nessa engrenagem?
Viver em terras tupiniquins e nunca ouvir certas frases clichês beira o impossível. Quem nunca ouviu “Também só tem ladrão.” ou “Não tem honesto ali, não.” Ou até mesmo, que somente um partido político é responsável por onde chegamos como um país. Nós apontamos o dedo para o congresso, para a presidência, para o Senado, como se eles fossem os únicos a terem culpa. Nós temos a audácia de dizer que somente os políticos são corruptos, embora continuemos a parar em vagas para deficientes, a furar filas, a corromper funcionários públicos, e a falsificar documentos. É a simples cultura de que nós sempre podemos estar um passo a frente com o jeitinho brasileiro. O que o brasileiro precisa entender é que tanto o Congresso, quanto o Senado e, até, a Presidência da República não são nada mais que reflexos da sociedade a qual os elege. A polarização do eleitorado em 2014 só dá mais ênfase a esse processo; o barco está afundando, mas nós preferimos apontar o dedo com raiva, dizendo que a culpa é de um certo partido ou de uma certa ideologia. Raiva, a qual é oriunda do fato de que o brasileiro não se reconhecer mais no espelho. A briga entre ideologias dentro da sociedade só beneficia a políticos que estão ocupando o cargo atualmente; assim, dialogar e achar meio termo para mudanças é o mais sensato a se fazer.
O evento que sintetiza o tema tratado anteriormente são as contas de Eduardo Cunha na Suíça conterem 5 milhões de dólares, cuja origem ainda não foi confirmada. Mesmo com muita dor no coração, tenho de admitir que sim, Eduardo Cunha é um reflexo de nossa sociedade. Assim como muitos outros políticos, sim, todos fazem parte da nossa seleção. A mera possibilidade do presidente da Câmara dos Deputados, cargo de extrema influência no Congresso, estar ativamente envolvido em dinheiro ilícito da Petrobras demonstra o reflexo de uma sociedade corrupta em suas raízes. Muitos dirão, “Não tem nada a ver, eu sou uma pessoa correta, os políticos é que roubam.” Você tem certeza? Como sociedade em geral, nós seguimos as regras da ética à risca? Se a sociedade fosse um time de futebol, com certeza Collor, Cunha, Sarney, Calheiros, todos seriam titulares.
“Quando os brasileiros passarem a tratar as falhas dos seus políticos, com a mesma intolerância com que tratam a falha do goleiro do seu time preferido, o Brasil terá alguma esperança.” – Samuel Rangel
Aproveitando o momento no qual nossa identidade se encontra destroçada, que tal mudar, discutir, analisar, ouvir? Chegou a hora de enterrar certos costumes, ideias e conceitos. Política tem de ser discutida, e, melhor ainda, “dialogada”: encarnar a ideologia de um partido e defendê-la a ferro não nos levará a lugar algum. A função da nossa sociedade, diante do cenário colocado, é construir uma nova identidade, uma identidade onde os reais problemas da sociedade sejam discutidos e escavados até as raízes. Não somos mais o país do futebol, mas quanto mais tentarmos mudar hábitos incorretos do dia a dia, cada vez mais teremos menos Cunhas e Collors no nosso time. Vamos deixar o jeitinho brasileiro de lado, ao invés de apontar o dedo aos “culpados”, vamos colocar de lado a hipocrisia e apontar o dedo a nós mesmos. A real mudança que nós queremos para o Brasil começa em nossa própria casa.
In his third and last year as a Talon writer, Henrique, a senior and Graded lifer, attempts to assimilate what happens with Brazilian politics in his monthly...