Dá pra fazer História?
Na minha última aula de História, o professor perguntou à classe se algum de nós já tinha presenciado um evento histórico. Sem hesitar, a maioria mencionou os atentados do dia 11 de setembro de 2001, mesmo sem lembrar de muitos dos detalhes. Outros trouxeram lembranças dos protestos de junho do ano passado. O professor citou a queda do muro de Berlim, evento que comemorou 25 anos recentemente, e eu fiquei pensando sobre o assunto. Será que nos meus poucos 17 anos de vida eu já teria presenciado um evento histórico?
Nasci do ano de 1997, mas como não me lembro daquela época, rapidamente retiro qualquer evento do século passado da minha lista. Quando era criança, lembro-me de assistir na TV às notícias sobre o confronto no Iraque. Entretanto, pouco sabia na época do que se tratava. Lembro-me também de um furacão de efeito devastador, chamado Katrina, que dizimou uma parte dos Estados Unidos; mas, de novo, eu era ainda muito novo para entender. Lembro-me do lançamento, em 2007, de um novo telefone, chamado iPhone que, supostamente, revolucionaria o mercado. E em 2009, Barack Obama. Vi o primeiro presidente afro-americano dos Estados Unidos tomar posse. Lembro-me também de um terremoto enorme, no dia do aniversário do meu pai e do meu irmão, em 2010, que desencadeou um acidente nuclear no Japão.
Lembro-me de tudo isso, mas mesmo assim não sei se posso responder à pergunta do meu professor de história. Um evento histórico é definido como algo relevante, ou seja, que levou a mudança de paradigma em nossa sociedade. Os ataques de 11 de setembro são, sem sombra de dúvida, um evento histórico. Levaram os Estado Unidos à guerra contra terroristas, à morte do líder da Al-Qaeda, Osama Bin Laden, e contribuíram para o acirramento do preconceito contra muçulmanos. Porém, no que diz respeito aos outros eventos relatados, será que serão lembrados nos livros de história no futuro?
Hoje, não podemos determinar exatamente o impacto que certas descobertas e invenções têm na história da humanidade. De todos os eventos acima, o único que já compreendi como histórico, apesar da minha pouca idade, foi o lançamento do primeiro iPhone. Esse celular não mudou apenas a maneira como nos comunicamos no cotidiano, ele mudou um mercado inteiro, de forma irrefutável. Em alguns anos, alguém provavelmente vai chamar esse período que estamos vivendo de ‘extraordinária revolução tecnológica’, ou algo do tipo. Pra falar a verdade, quando se trata de tecnologia, já não duvido de mais nada, especialmente depois de ler que o hoverboard, do filme De volta para o futuro, já é uma realidade.
Quanto aos demais eventos, acredito que todos tenham um significado que, talvez, ainda não possa perceber. Até porque significado é algo que imprimimos ao que nos acontece. É claro que um morador do Japão vai considerar o acidente em Fukushima muito mais importante do que o lançamento de um telefone. E é claro, que alguém que presenciou a queda do muro de Berlim automaticamente viu aquele como um evento histórico relevante.
Provavelmente eu ainda terei a chance de presenciar um momento verdadeiramente histórico, mas é ainda mais interessante pensar que talvez eu só precise esperar alguns anos para que os eventos que presenciei se tornem históricos, pois não se pode deixar que apenas os livros decidam o que foi relevante. Nós mesmos podemos decidir o que vai constar dos livros de História.
Luiz Felipe is one of the columnists of The Talon. This is his first year writing for the magazine, and he hopes to find a variety of stories to talk about....