Eu juro que é piada
Estamos a menos de um mês do dia que decidirá os próximos 4 anos do país e me sinto numa montanha russa de discussões internas. Uma turbulência quase comparável àquela de quem acabou de sofrer um acidente e espera silenciosamente a recuperação pós-cirugica numa maca.
Sinto ansiedade, confusão, esperança e depressão. Deitada em berço esplêndido, me pergunto quem será a melhor e mais duradoura “cura” para o grande acidente em que o Brasil se tornou nos últimos anos. No entanto, parece não ter volta, já estamos resistentes à morfina.
Digo morfina pois os discursos redundantes dos candidatos, como gosto de dizer, “já não rolam mais”. Como cidadã e adolescente, basta ouvir promessas de um Brasil inatingível e a primeira coisa que quero fazer é tampar meus ouvidos, tirar a TV e o rádio da tomada e fugir para não pensar mais na blasfêmia que a política brasileira é. Dilma, Marina, Aécio, Lúcia, Pastor Everaldo e outros, por favor, parem de tratar os jovens como iogurte – e uso aqui a ótima analogia feita pelo jornalista Leonardo Sakamoto, da Folha de São Paulo.
Como bem disse Sakamoto, os candidatos “inserem o iogurte em seus discursos, reforçam sua importância, prometem tudo em nome dele e terminam afirmando que irão honrar o iogurte e o que ele representa”. Entretanto, já nos primeiros discursos, o iogurte, a esperança que resta ao Brasil, é menosprezado ao lado dos queijos nobres. Pois é, as infinitas promessas não cumpridas já estão obsoletas e passam a ser motivo de crítica ao invés de aplausos. Ou seja, falam muito de iogurte, mas nem sequer sabem o gosto dele.
Ainda pior são as propagandas de candidatos que optam por técnicas que, a meu ver, parecem “comédia stand-up eleitoral”. O apelo à infantilidade e tolice que muitos desses usam como forma de engajar o eleitorado acaba tendo efeito reverso, como aconteceu com Tiririca, eleito deputado federal em 2010 com 1.348.295 votos na base da brincadeira. Daria até um ótimo titulo de filme: “Tiririca: por trás de toda brincadeira há um fundo de verdade”. Esse fenômeno não deve ser atribuído somente ao cearense; Paulo Batista, atual candidato a deputado estadual de São Paulo, também aderiu ao modelo derivado do já falecido Enéas Carneiro, o já falecido cardiologista que concorreu a deputado federal e ganhou o cargo em 2002, com mais de 1.537.642 votos, incorporando um ar cômico e de baixa qualidade à sua campanha. A perplexidade cresce à medida que o número de visualizações dos vídeos desses candidatos no Youtube aumenta. Que país elege um palhaço ou um candidato que se faz de herói contra o comunismo (aliás, seu lema é “Contra comunista, vote Batista”) como uma mera brincadeira? Quantos desses espectadores vão achar engraçado e acabar votando no homem cuja única forma de atrair o público é se fantasiar, pular feito “personal-trainer”, e usar um clone fajuta do Roberto Carlos? Confesso que ambos os bordões de Tiririca e Batista já tiraram algumas risadas de mim, afinal, não há como negar gargalhadas ao ouvir “O que é que faz um deputado federal? Na realidade, eu não sei. Mas vote em mim que eu te conto”. Acabo rindo para não chorar.
Falta ideologia, sim. Falta qualificação, dedicação e, majoritariamente, falta a conscientização tanto do cidadão como dos próprios políticos. É um resquício das dores que o Brasil sentia quando sofria do infame “torcicolo” – termo usado para designar o espelhamento cego do Brasil em relação aos EUA. A palhaçada, as discussões redundantes e o placebo que vem sido prescritos para o povo já não têm mais o efeito psicológico de antes. E agora? Qual vai ser a cura inovadora da vez? Porque, lamento dizer, pior que tá vai ficar, Tiririca.