Por uma direita séria
Link para o texto de Pondé: http://www1.folha.uol.com.br/fsp/ilustrada/162261-por-uma-direita-festiva.shtml
Algumas semanas atrás, fui apresentado ao trabalho de Luiz Felipe Pondé por um futuro colega de faculdade, e me impressionei com a simplicidade com que o filósofo aborda temas de grande complexidade. Fiquei encantado com seu modo contemplativo, suas ideias sobre a vida e o ser, e a maneira como trata da filosofia de um modo geral, tornando-a bastante acessível. Por isso fiquei muito surpreso ao ler seu último texto, “Por uma direita festiva”, publicado na Folha de São Paulo. E a surpresa não foi nada boa.
Nos últimos dias, tem sido comum criticar e encontrar críticias a esse artigo. É fácil identificar ideias preconceituosas e incongruentes nesse trabalho desastroso, mas o que eu tenho visto pouco é a perspectiva de jovens liberais de direita – grupo que Pondé, professor de filosofia da PUC, supostamente defende – acerca do texto. Eu me considero parte dessa minoria (sim, é uma minoria no Brasil! O Pondé tem razão) e por isso detesto a ideia de ser representado pelo artigo infame.
Primeiramente, seu discurso não é de direita. Ele simplesmente dilui ideias fascistas num contexto moderno, implementando um humor sem graça. Aparentemente, seu conceito do papel feminino na sociedade se iguala ao de Hitler e Mussolini, que pregavam que a função da mulher era ficar em casa, procriar e cuidar de sua cria. O que mais me enojou no artigo de Pondé foi o modo irônico usado para afirmar que “as mulheres são donas de seus corpos”. Sim, Pondé, elas são donas de seus corpos e isso não é um discurso de esquerda e nem de direita. É um consenso no mundo moderno que veio por meio de muita luta por parte delas. Aliás, essa batalha que as mulheres enfrentaram, e ainda enfrentam diariamente, tem boa parte de suas raízes nos Estados Unidos. O mesmo país do Congresso de Washington, que criou diretrizes liberais para a economia de países subdesenvolvidos, e o mesmo país que lutou contra o “terror vermelho” durante quase cinquenta anos. Discutir economia e política é aceitável, mas querer reivindicar direitos básicos e justificar isso por meio de um pretenso discurso de direita é piada. Como diria o craque Neto, “só pode estar de brincadeira, né?”
E o que dizer sobre a “vibe” darwinista? Acredito, em grande parte, no gene egoísta de Richard Dawkins, que desenvolveu a pesquisa de Darwin, mas é impossível afirmar que esquerdistas adotem a figura de Che Guevara como herói simplesmente para conquistar mulheres. Afinal, Pondé, quem é de direita também gosta de sexo, cerveja, e de conversar no bar. E a Abby Joseph Cohen, acionista majoritária da Goldman Sachs, diria que mulher também gosta de economia, viu? O comportamento humano pode até ser um produto da ciência, mas nada justifica a desmoralização da mulher e do jovem e de seus direitos.
Pondé, seus preconceitos e generalizações não fazem parte de uma teoria evolucionista, muito menos de um discurso de direita. Seu texto é, no máximo, uma tentativa desesperada de aparecer… Mas afinal você parece ter conseguido aquilo que desejava, pois aqui estou eu, tentando discutir seus argumentos, o que é tarefa quase impossível, por conta das incongruências apresentadas nele. Acredito na direita moderada brasileira, que ainda é sub-representada; mas é preferível ser sub-representada a ser mal representada. Até concordo com sua descrição dos boicotes efetuados pelas faculdades brasileiras contra seus próprios alunos, porque deve ser difícil mesmo identificar-se com a direita no meio acadêmico brasileiro, mas agora só peço que suas sugestões sejam ignoradas e que a imagem dos jovens de direita não seja, jamais, associada a você. A direita tem o direto de se manifestar e de ter suas ideias ouvidas, sim, mas que tais ideias sejam fomentadas por desejo de melhoria e por debates intelectuais genuínos, e não simplesmente para aparecer.
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